Quinta 28 de abril de 2016.
Regência, Espírito Santo, Brasil.

Atualização do corte no aceso à vila Regência.

-Primeiro dia, primer bloqueio.
O corte de estrada virou a primeira noite e o dia começo cedo com a
chegada de um caminhão em busca dos equipamentos instalados no pequeno
porto de Regência: O primeiro bloqueio do dia.

A consigna foi clara, nenhum equipamento da Samarco ou terceirizada sai
de lá enquanto não foram ouvidos. Pelo que o caminhão não conseguiu
entrar na vila e ficara estacionado o dia tudo lá fora.

As boias na agua, os containers, tenda, lancha, geradores, equipamentos
todos no porto de Regência que sempre foi um lindo jardim, não agrada
ninguém, mas retê-los aí nesse momento é se assegurar algum diálogo,
explicação, resposta as infinitas duvidas e maquiadas de historias
falsas que a população está vivendo há 6 meses.
Uma vila acostumada ao sossego e contato intenso com a natureza, em
estado de indignação total. "Chegou a hora de acabar com essa palhaçada"
falou um carro de som pela rua nesses dias.

-Policia Militar.
Um núcleo da Policia Militar também foi das primeiras visitas do dia.
Desde cedo acompanharam a jornada toda até fim da tarde. Procuraram se
informar varias vezes sobre os motivos e espírito do corte.

Reconhecendo o direito e tudo sentido da revolta, a relação foi de total
respeito e se manteve na maior parte do dia uma distancia prudente pra o
livre usufruto do direito(e dever) de protestar.

Meia manhã chegou a primeira TV.
(Próximo comunicado os depoimentos)

-Bloqueio a peixes contaminados.
Logo duas pessoas intentaram sair de Regência com a camioneta carregada
de peixe, porém, peixe contaminado pela lama do crime e proibido
inclusive pelos organismos do governo. Aquilo gerou confusão entre não
querer prejudicar ao comerciante que dizia ter comprado o peixe a um
pescador da vila, e a negação em deixar que aquele peixe contaminado
fora vendido provavelmente na cidade de Linhares como um peixe sano de
outro lugar.

Se fotografou as caixas de peixes e se nego o passo delas. O comerciante
reivindicou que devolveria ao pescador do qual comprou e logo iria
embora da vila sem o peixe. Combinado. Retorno sem as caixas de peixe e
foi embora.
Se soube mais tarde que o comerciante não devolveu o peixe, se não que
enviou-as caixas por barca pra o outro lado do rio conseguindo sacar a
mercadoria pela vila Povoação. Porém, alguma cidade próxima, terá peixe
contaminado amanhã pela manhã na venda pronta pra o prato da família,
incluindo crianças. Isso também é consequência da Vale, da Samarco, da
BHP existirem.

-SAAE e a condição da água da vila.
Por volta das 11hs um carro da SAAE, empresa responsável pelo
abastecimento de agua na cidade, foi negado a sair da vila até um
representante competente pra dar respostas fizesse presencia lá. Uma
hora depois apareceu Sandro referente da empresa. Pediu pra ninguém
tirar foto nem gravar, e advertiu que se alguém gravasse ele não falaria.

Se apresentaram as reivindicações:
-A normalização e constância do serviço de agua, que sofre cortes todos
os dias.
-Melhora de qualidade na turbidez da agua.
-Se denunciou a água estar com mal cheiro.
-Se pediu analises de agua em moradias especificas onde seguram a água
estar chegando crítica.

Ante a intenção da Samarco de amanhã sexta 29/04 parar com seu
compromisso de abastecimento de água com caminhão pipa, a SAAE se
comprometeu carregar os custos pra não parar com o abastecimento.

Depois da lama chegar Regência é abastecida por agua do Rio Pequeno e 2
poços artesianos. A SAAE se comprometeu em fazer no mínimo mais 2 poços.
A proposta é que Regência tenha autonomia de abastecimento e não dependa
mais dos caminhão pipa.
Voltar captar água do Rio Doce por enquanto é impossível.

Se prometeu seria em um prazo curto, nem meio nem longo, curto.

-Reunião com a Samarco.
A primeira noticia do dia sobre os funcionarios da Samarco foi que
intentaram sair da vila por um outro caminho e não conseguiram gracias
às interditadas feitas no caminho. Se viram obrigados comparecer.

Por volta das 13hs chegou o chamado pra um máximo de 5 pessoas se
reunirem em reunião com representantes da empresa Samarco.

Foram Luciana, Gloria, Ana, Messias e Fabinho.

Os representantes da Samarco começaram falando que a empresa se esforçou
e fez tudo o possível pra fazer a coisa do melhor jeito. Frisaram que a
empresa não está indo embora da vila. Falaram que a turbidez na agua
diminuiu, mas reconheceram que uma chuva levantaria a turbidez novamente
já que a lama está apenas depositada no fundo do rio.
Se denunciou o fato de fechar a entrega de ressarcimento econômico
(cartão) apenas com a associação de pescadores, o que fez que a grande
maioria dos afetados não enquadrassem como atingidos no critério da
Samarco, inclusive pescadores de toda a vida apenas por não ter carteira
de pescador. Se explicou de que forma tudo mundo na vila de Regência
está sofrendo com esse crime intergalático da Samarco, os funcionários
da empresa reconheceram a situação óbvia de que acabaram com a geração
de renda de tudo mundo, mas explicaram que não podem dar cartões pra
tudo mundo afetado na vila porque isso produziria uma reação em cadeia
ao longo de todas as comunidades afetadas reivindicando ressarcimentos,
e a empresa não tem como fazer isso alegaram. Porém, deixaram explicito
que não entregariam nenhum cartão a mais. Que deveriam fazer um aditivo
na TAC (Termo de acordo e conduta) pra voltar entregar cartões.

Se perguntou sobre o critério que utilizaram pra definir quem receberia
o cartão e quem não: não souberam responder.

Se denunciou que tem pessoas até passando situações de fome e alguns até
comendo e vendendo peixe envenenado por não ter opção. A empresa pediu
se fazer uma lista das pessoas em situação mais critica pra tentar
ajudar de alguma forma. Reconheceram que os critérios utilizados pra a
entrega de cartões foram errados.

Anunciaram que ajudariam na festa de Cabloco Bernardo que acontecerá nas
próximas semanas. Automaticamente isso trouxe a tono que os comerciantes
nem estão com estoque pronto pra receber uma grande visita de turistas
porque a meses que não tem ingressos nenhum pra comprar mercadoria.

Falaram que a partir do 26 de junho terá criada uma Câmara de
Conciliação pra que qualquer pessoa poda se apresentar com suas
reivindicações.

Se combinaram duas próximas reuniões.
Uma o 4 de maio no mesmo esquema, de 5 pessoas e portas fechadas.
Outra pra o 10 de maio, aberta e pra toda a comunidade participar.

-Assembleia.
Logo depois da reunião com a Samarco se reuniram todos em assembleia e
se colocou tudo o acontecido. Se entendeu que não foi uma negociação o
que aconteceu se não apenas uma imposição da Samarco dizendo o que eles
fariam e o que não. Ante a negativa de ressarcir a tudo aquele que
estiver sendo prejudicado (que é a comunidade toda), a assembleia votou
por manter o corte, e reforçar a vigilância sobre o movimento no porto
pra evitar fuga de equipamentos por lá.

Equipes de comunicação se organizaram automaticamente pra construir uma
declaração oficial dos fatos acontecidos e denunciar as inúmeras
violações a direitos por parte das empresas envolvidas nesse crime.

O corte no aceso da vila Regência se mantém por tempo indeterminado
enquanto as reivindicações não foram atendidas.

Pela noite dinâmicas de construção coletiva de textos e confraternização
musical.